quarta-feira, 31 de janeiro de 2007

O Retorno - Jornalismo

The VOICE says: Are you tired of getting lied to?”
- Jonathan Hickman, The Nightly News

Para começar, eu acho que devo a todos desculpas. Um ano sem escrever é tempo demais.
Mas espero conseguir o perdão daqueles que liam o meu antigo blog (sepultado pela minha inabilidade de lembrar a senha e manter meu antigo e-mail) explicando algumas coisas que estão profundamente ligadas ao âmago daquilo sobre o que eu realmente vim escrever aqui hoje.

A verdade é que, depois de dois anos de muito estudo e poucos resultados, eu finalmente re-ingressei numa faculdade. Agora me junto aos números da Faculdade Cásper Líbero e estou, uma vez mais, trilhando o caminho do Jornalismo legítimo.
Isto posto, enquanto você, leitor, decide se sou ou não merecedor do seu perdão, eu gostaria de falar sobre a minha musa, minha carreira, minha vocação e meu chamado: O Jornalismo.

Na falta de credenciais para tentar discursar sobre o tópico, eu ofereço a minha visão em face de alguns fatos históricos, senso comum e comentários de conhecedores e leigos.

Não obstante o que os historiadores mais zelosos possam dizer, a história do Jornalismo como nós o conhecemos começa com Gutenberg em 1456. Antes, a disseminação de informação era simplesmente muito lenta e extremamente restrita. Os primeiros jornais começaram a aparecer na Europa no século XVII e o primeiro periódico surgiu na Alemanha em 1594, o Mercurius Gallobelgicus.
A arte de produzir e espalhar notícias já mudou muito desde então, tanto em técnica como em meta e em basicamente todos os outros aspectos envolvidos. Poucas foram as atividades que mudaram mais com o advento da internet do que o Jornalismo. Agora os profissionais, os estudiosos e os leitores têm novas e interessantes perguntas a responder.

Por exemplo, a concentração dos meios de comunicação nas mãos de grandes corporações é algo com que todos devem se preocupar. No mundo todo, três quartos de todo o dinheiro gasto em propaganda acaba nos bolsos de apenas 20 companhias de mídia. O impacto na confiança depositada nos meios de comunicação é palpável. No nosso país, a situação pode ser até mais grave do que no resto do mundo, considerando que a Rede Globo tem duas mãos firmemente colocadas no pescoço do público brasileiro num quase-monopólio dos recursos da informação. São pessoas que têm acesso às figuras mais importantes do país não pelo interesse em relatar a verdade, mas por interesses comuns.

A minha geração já nasceu num tempo em que a frase “direção editorial” quer realmente dizer “agenda política” e onde notícia e propaganda estão tão entrelaçadas que às vezes fica difícil distinguir os limites entre uma coisa e outra. Resta a nós saber quais serão as novas frases de efeito que NÓS inventaremos para mascarar a venda dos nossos ideais e moralidade.

E que aqueles que estão agora, como eu, dando seus primeiros passos na profissão não se iludam com o idealismo, mesmo sendo ele necessário para sequer considerar o jornalismo como carreira. O sistema está aí estabelecido contra nós. O público vive incutido com a noção do repórter como abutre, como parasita e como fomentador da discórdia e manipulador dos fatos. O mercado de trabalho é extremamente pequeno e fica menor todo ano, forçando o profissional a praticamente pendurar o orgulho e mendigar um emprego. E quando isso acontece, o empregador sabe que tem você pelas bolas. Você vai fazer qualquer coisa para manter aquele emprego. Mas será que vai fazer realmente qualquer coisa?

As duas coisas que um jornalista nunca deve fazer na minha opinião são: ele próprio virar notícia; ou comprometer sua carreira fazendo uma escolha moral duvidosa. E esta é a parte difícil. Das falhas morais, a mais grave é a fabricação da notícia. A mentira, para ser mais claro. Mas o problema maior é que a verdade pode ser usada para adiantar qualquer intenção escusa que se aposse dela. É neste campo minado que trafega o jornalista.
Num lado menos filosófico, o jornalista trabalha horas absurdas, ganha mal e se expõe a todo tipo de perigo. O bom jornalista, ao mesmo tempo em que angaria respeito e confiança de suas fontes e colegas e, com sorte, até do público, também angaria a inimizade de muitos, bandidos e mocinhos, despojados e poderosos.

Por enquanto, isto é tudo que eu quero dizer sobre o assunto. Mas ele será revisitado e eu prevejo que não serão poucas as vezes que eu falarei sobre a minha profissão. Sempre em destaque, mas nunca totalmente compreendida.