terça-feira, 15 de maio de 2007

A Verdade Sobre a Crise

"Apesar de você, amanhã há de ser outro dia..."
Chico Buarque - Apesar de você

O São Paulo começou bem o Brasileirão 2007, derrotando o Goiás por dois a zero. Mas isso foi dentro de campo. Fora de campo, uma das piores crises que o clube já enfrentou nos últimos três anos se avizinha, não em menor parte graças aos meus colegas da imprensa esportiva.

Ano passado, o São Paulo teve uma campanha pouco convincente no Campeonato Paulista, mas foi vice-campeão. O mesmo pode ser dito da campanha feita na Libertadores de 2006, e o resultado foi o mesmo. Quando o time enfrentou a esquadra do Boca Juniors pela Recopa e foi retumbantemente derrotado, instalou-se a crise no time mais rico e melhor organizado do país, mesmo tendo um elenco invejável, uma boa comissão técnica e uma diretoria competente. Foi preciso uma junção de forças de todas as partes, instigada pela direção do clube, para que o ano não fosse perdido e para que o time, merecidamente afinal, chegasse ao título Brasileiro. Mas não foi uma conquista sem certo grau de dramaticidade, com outros times se mantendo próximos do tricolor até o final da competição.

Passada a euforia da conquista, que pouco durou, pois as saídas de jogadores importantes ao esquema tático como Danilo, Fabão e Mineiro jogou um balde de água fria até no mais esperançoso torcedor, começou a preocupação de remontar o time. Souza, que havia sido um eterno curinga no time, ocupando diversas posições e se destacando na maioria delas foi recompensado com a camisa 10 e a posição de titular na meia-direita, sua posição de ofício. Ilsinho, revelação do Campeonato Brasileiro para o tricolor, se consolidou como dono da lateral direita. O esquema tático preferido de Muricy Ramalho, o 4-4-2 parecia que sairia finalmente do papel para ser sucesso nos gramados. Os reforços foram chegando aos poucos e aos poucos a torcida começou a se animar novamente. Afinal, Jorge Wagner, Jadilson e Fredson são nomes que inspiravam confiança à torcida. Jogadores que ainda eram novatos no São Paulo no final do ano ou que estavam machucados prometiam ter ótimos desempenhos em 2007, com Junior recuperado da sua lesão no tornozelo, Maurinho retornando e podendo ser, como prometido, o herdeiro legitimo da posição de Cicinho, André Dias, Miranda e Alex Silva seriam barreiras intransponíveis, Rogério Ceni chegaria com facilidade ao seu centésimo gol na carreira. E lá, na distância, o torcedor avistava a promessa da terra prometida, a ser entregue nas chuteiras do atacante Dogoberto. Seria o fim das improvisações estranhas, dos jogadores curingas e, mais uma vez, como em 2005, o São Paulo seria campeão e indiscutivelmente o melhor time do Brasil.

Cinco meses se passaram e a realidade estapeava a cara de são-paulinos doentes e ocasionais igualmente. O São Paulo havia caído de forma humilhante, em casa, perante o fraco time do São Caetano nas semifinais do Campeonato Paulista. E ali a grande maioria dos torcedores, sentada na frente de seus televisores, via o São Paulo, menos de duas semanas depois, sendo eliminado nas oitavas de final da Copa Libertadores 2007 pelo time do Grêmio. Em campo, Miranda, Ceni e Alex Silva se defendiam nervosamente dos contra-ataques do time do Rio Grande do Sul, já que mais ninguém olhava por eles. Abandonado no meio de campo, Josué tentava fazer o milagre nosso de cada dia, marcando com a mesma eficiência que o Grêmio, sendo que o time adversário precisava de três jogadores para fazer aquilo que o incansável leão são-paulino fazia sozinho. Lançados à frente, esquecendo de suas obrigações para com a defesa, estavam Jadilson, Ilsinho e Richarlysson. Os laterais se expunham ao mundo em todos os seus atributos e falhas. Ambos criativos e rápidos, mas pouco objetivos e simplesmente frágeis na defesa. Richarlysson era o ser inexplicável que sempre fora. Esforçado, sim, mas pouco habilidoso, mal posicionado, confuso e constantemente, incrivelmente, sempre escalado, mesmo que em diversas posições diferentes. Outro esforçado em campo era Hugo, mas este era punido pela total apatia e incapacidade de jogo de Souza, Leandro e Aloísio. Também inexplicável era a presença de Jorge Wagner, André Dias e Dagoberto no banco de reservas. Incluo aqui André Dias porque o São Paulo começou o jogo com a vantagem de ter ganhado a partida anterior em casa, podendo perder por uma diferença de um gol, contanto que também marcasse. E, se não marcasse, perdendo de um gol, levaria a decisão para os pênaltis.

O que aconteceu foi que o técnico Muricy mandou o time para cima do Grêmio, dentro do estádio Olímpico, mudou o time somente no intervalo preservando em campo jogadores que estavam obviamente menos qualificados para a decisão do que aqueles que saíram e se recusou a mudar de tática, mesmo depois que a derrota se tornou óbvia até mesmo para aqueles menos iniciados que assistiam ao jogo.

Já na sexta-feira, os mais atentos ignoravam as notícias sobre as peripécias do Papa na terra tupiniquim e prestavam atenção aos avisos de que uma grande mudança viria a ocorrer no elenco do tricolor paulista. Talvez o problema tenha vindo exatamente com o “olho” da notícia que bradava: “se o São Paulo começar amanhã com Jorge Wagner, Dagoberto, Borges, André Dias e Hernane, o Muricy não manda mais nada no São Paulo”. E é assim que se instala uma crise num time com a estrutura do São Paulo.

Quem me conhece sabe que não sou fã do trabalho de Muricy Ramalho no São Paulo. Eu vejo o técnico como tendo um histórico de preferir a improvisação à utilização de atletas da posição, preferindo o risco do curinga ao risco de uma formação mais arrojada, de intervenções tácticas tímidas e atuações dramáticas à beira do gramado, de alterações tardias e confusas, de proteger jogadores de sua confiança enquanto expõe outros jogadores com críticas e diversas outras coisas. Erros que nem sempre custaram ao São Paulo a derrota nos jogos, mas que têm custado ao São Paulo campeonatos e o desenvolvimento de craques. Por meses eu me perguntei se eu e alguns outros éramos os únicos a ver os problemas do time. E resposta chegou a mim no sábado pela manhã.

O presidente do São Paulo, Juvenal Juvêncio, teve uma conversa com o técnico e chamou a atenção dele, obviamente, para alguns dos problemas do time e da sua direção. Não vou chegar aqui e dizer que Muricy foi totalmente desmoralizado e que o presidente tomou as rédeas do time, passando por cima do técnico e escalando o time. O problema foi que a imprensa esportiva de São Paulo decidiu correr com este ângulo. E foi isso que acarretou a crise, somado aos boatos da saída do lateral Júnior, ídolo da torcida, preterido pelo técnico por Jadilson, que tem tido atuações muito abaixo da média.

O que resta agora ao time do São Paulo e à sua torcida é buscar na imprensa as vozes mais ponderadas para que esta crise fabricada não se torne real. Perder jogos faz parte do futebol. Fracassar em campeonatos é mais do que normal, é a norma. A diretoria interferir em momentos de crise anunciada não é apenas normal, é aconselhável e mostra um bom tino administrativo. O que não é normal é que esta realidade fabricada se torne a situação aceita.

segunda-feira, 19 de fevereiro de 2007

Os Carl-Oscars: Ghost Rider

"All horses snorting fire, as they ride on hear their cry"
- Johnny Cash, "(Ghost) Riders in the Sky"

Finalmente, saiu o filme "Ghost Rider" ("O Motoqueiro Fantasma") nos EUA. Aproveitando o feriado do President's Day (que está sendo celebrado hoje) e o "fim de semana de quatro dias", Ghost Rider abriu como um dos filmes mais lucrativos a serem lançados no mês de Fevereiro. Rendeu quase US$16 milhões no primeiro dia, US$44 milhões até ontem e a SONY espera ultrapassar os $50 milhões até o fim do dia de hoje. O filme já rendeu mais de 60 milhões no mundo todo e o filme ainda nem estreou em países como Inglaterra, Espanha e aqui mesmo no Brasil. Esse rendimento deve assegurar que "Ghost Rider" se torne uma franchize como "Spider-Man", "X-Men" e "Fantastic Four", rendendo outros filmes com o personagem (YEAH!).
O filme não é nenhuma obra prima e os críticos estão fazendo de tudo para destruí-lo na mídia. Mas não se enganem: O filme é bem superior a outros esforços de adaptar um quadrinho para a telona como "X-Men: The Last Stand", "The Punisher", "Blade II", "Blade: Trinity" e até mesmo os outros dois filmes de Mark Steven Johnson "Elektra" e "Demolidor". E se você for fã do personagem (como eu) pode inclusive achá-lo melhor que "Fantastic Four", "Hellboy", "Blade" e "Superman Returns".

O filme sofre do mesmo problema que a maioria das adaptações de quadrinhos para o cinema, isto é, a história não é exatamente fiel aos quadrinhos. Nem sequer vou tocar no assunto sobre o demônio Zarathos e todos os problemas de continuidade causados pela segunda série do Motoqueiro Fantasma dos anos 90, estrelada por Danny Ketch.
Enquanto nos quadrinhos Blaze vende sua alma para salvar seu pai adotivo, Crash Simpson, pai de Roxanne, seu grande amor, no filme Blaze faz um acordo com o demônio Mefistófeles para salvar seu pai Barton Blaze. O pai de Roxanne nem ao menos aparece no filme e só é mencionado para mostrar que não gosta do fato de sua filha estar apaixonada por um "carnie" (trabalhador de circo). Obviamente que estes fatos refletem na motivação dos personagens e como eles se desenvolvem, mas depois de alguns minutos de filme, até eu já havia me esquecido destas mudanças.

O outro problema com a origem de Blaze no filme são alguns dos atores escolhidos para esta parte do filme. Matt Long, que faz o papel de jovem Johnny Blaze é de longe o pior ator do filme.
O ator que faz o papel de Barton Blaze também não é dos mais convincentes e as duas apresentações contam pelos piores 20 minutos do filme.
O que salva o começo são as atuações de Peter Fonda como Mefistófeles e Raquel Alessi como a jovem Roxanne Simpson. Raquel é incrivelmente parecida com Eva Mendes, que representa Roxanne crescida, e ao contrário de outros atores no filme tem uma ótima atuação e consegue realmente manter sua personagem multidimensional. A forma como Johnny Blaze faz seu acordo com o capeta também é muito diferente da história dos quadrinhos e será provavelmente o ponto que decepcionará o maior número de fãs. Mas funciona dentro do filme, agradará ao público que não conhece o personagem tão bem e é mais dentro da atual linha editorial do personagem na Marvel, transformando Johnny Blaze num personagem eternamente enganado e manipulado.

Mas a história começa a brilhar quando o tempo avança e vemos Johnny crescido, interpretado pelo GENIAL Nicholas Cage. Cage (ator famoso por outros trabalhos como "Arizona, Nunca Mais", "The Rock", "A Outra Face" e "O Senhor da Guerra") passou anos declarando publicamente seu amor pelo personagem e não há um segundo na tela que desminta suas juras apaixonadas. Este Johnny Blaze é bem diferente daquele dos quadrinhos, mas é uma interpretação coerente e extremamente simpática e, mais importante, AINDA É Johnny Blaze. Na verdade, o personagem é a peça mais importante no plano dos cineastas de fazer uma versão mais bem humorada e acessível ao público mais jovem. Em vez de vermos um Johnny Blaze amargurado, bebendo uísque e fumando, vemos Blaze vendo programas bobos na TV, comendo balas de goma e ouvindo músicas melosas dos Carpenters. Parece ridículo, mas a lógica por trás de tudo isso é sólida e funciona na tela. O mais importante é que Johnny Blaze é o típico "stunt rider". Ele encara a morte de frente e sem medo e carrega esta atitude para os seus confrontos com demônios, polícia e com a vida em geral.
Donald Logue (mais conhecido por seus trabalhos para a TV nas séries "ER" e "Grounded for Life") também é um dos melhores na tela, no papel do melhor amigo de Johnny, Mack, o cara que o acompanha e ajuda na preparação dos shows. Logue tem algumas das melhores falas do filme e sua atuação cria um personagem com o qual a audiência pode se identificar e acaba gostando bastante.
Eva Mendes faz talvez o melhor trabalho de sua carreira neste filme e, diferentemente de muitas outras atrizes envolvidas em filmes sobre quadrinhos, se distancia da imagem da donzela em perigo e se aproxima mais de uma pessoa real. É muito difícil olhar para qualquer outra coisa quando ela está na tela.
Sam Elliot (de "Tombstone", "Obrigado por Fumar" e "O Grande Lebowsky") faz o papel de Caretaker. E, para falar bem a verdade, nenhum outro ator poderia fazer este papel. Sua voz de Barítono, seu sotaque e seus maneirismos se encaixam perfeitamente ao personagem. Sua atuação e o dueto que ele faz na tela com Nick Cage são impagáveis.

Mas tudo isso some quando o Motoqueiro Fantasma aparece. Na telona, o Espírito da Vingança é uma combinação fantástica de três elementos:
1- A caveira que vemos na tela foi criada a partir de chapas de raios-X e tomografias em 360º da caveira do próprio Nick Cage, dando a ela uma realidade indiscutível (mesmo sendo menos expressiva do que nos quadrinhos).
2- Os efeitos especiais de Computação Gráfica usados para criar o fogo que o envolve são realmente top-de-linha. O fogo se move como fogo deve se mover e o efeito criado nunca atrapalha a vista. Ninguém vai olhar para a tela pensando "Lá vem o Chaves, Chaves, Chaves...".
3- Montado na sua moto em chamas, subindo pelo lado de prédios, andando sobre a água, derretendo asfalto, o Motoqueiro é uma das visões mais incríveis já conjuradas numa tela de cinema. Ele é simplesmente... COOL.
Nenhum de seus poderes é omitido. Ele cria paredes de chama, usa sua corrente, olhar de penitência e escopeta de fogo do inferno, além de descer a mão com categoria.

Mas a verdadeira fraqueza do filme é os seus vilões. Depois que você se acostuma ao fato de ver uma lenda do cinema como Peter Fonda, você percebe que as falas de Mefistófeles são extremamente mal-escritas, estereotipadas e rasas. Ele faz o melhor possível com o material, mas ainda assim está longe do diálogo com o qual o fã de quadrinhos já se acostumou a ler.
Wes Bentley, atuando no papel de Coração Negro, é terrível. Se não fossem os efeitos especiais, a única coisa assustadora sobre ele seria o fato do quanto o garoto NÃO sabe atuar. Ou se sabe, não mostrou ao que veio neste filme. Ele ainda tem seus bons momentos no final do filme, pra não dizer que nada se salva. Só um aviso: Se você esperava ver neste filme versões clássicas do demônio Mefisto e do próprio Coração Negro, você vai se decepcionar. Coração Negro ainda chega perto daquele que já vimos desenhado por grandes como John Romita Jr., mas Mefisto simplesmente não aparece neste filme.
Sobraram os demônios elementares, recrutados por Blackheart para ajudá-lo. Se não bastasse o fato de já termos visto demônios elementares na animação longa-metragem do Homem de Ferro, que não saiu faz mais de quatro meses, em Iron Man eles são anos-luz melhores. Esses caras não deveriam nem sequer ser atores, quiçá aparecer no filme do Motoqueiro Fantasma. Eles são de fazer a audiência cobrir o rosto, mas não de medo. Nem os efeitos especiais dão conta de salvarem estas péssimas participações.

Mas o fato é que todos estes problemas não chegam a estragar o filme (da forma como o péssimo Dr. Destino estragou para mim “Quarteto Fantástico”).
Talvez porque este filme se escorou bem nas três coisas que realmente lhe garantiam uma vantagem: A atuação dos seus atores principais, o puro poder de impacto visual do Motoqueiro Fantasma e uma história que tem seus altos e baixos, mas que é interessante, profunda em alguns pontos e que tenta centralizar e não escapar de seu foco narrativo.
O filme também se beneficia de uma trilha sonora muito boa, com material instrumental original composto por Christopher Young, além de incluir alguns clássicos como as músicas "Crazy Train" de Ozzie Osbourne, "Tush" da banda ZZ Top, "Who Do You Love" de George Thoroughgood and the Destroyers e uma versão Metal de "(Ghost) Riders in the Sky", famosa pela interpretação de Johnny Cash.

Agora, sendo um pouco menos objetivo e um pouco mais "fanboy"...
O FILME É MUITO BOM!!!!
Eu gargalhei, não por humor, mas pela pura sensação de êxtase a primeira vez que o Motoqueiro Fantasma aparece na tela. A primeira vez que Blaze passa pela transformação é igualzinha ao que eu imaginava quando via Danny Ketch se transformando na revista quando eu era moleque. É uma mistura incrível de dor e poder, sofrimento e alegria. Alegria do Motoqueiro Fantasma em estar-se vendo livre da incômoda casca de carne que é Johnny Blaze.
A perseguição policial pelas ruas da cidade é um dos pontos altos do filme, onde o Motoqueiro mostra todo o seu potencial, e repetem algumas das suas maiores façanhas dos quadrinhos. E a cena do Motoqueiro Fantasma e sua contraparte do Velho Oeste cavalgando pelo deserto, de noite, ao som de "Ghost Riders in the Sky" é tão poderosa e emblemática que vai trazer lágrimas aos olhos de muita gente.

Este filme poderia ter sido perfeito - SE Mark Steven Johnson tivesse tido o tempo e, sejamos francos, a humildade de procurar a ajuda de um roteirista especializado para escrever os seus diálogos e desenvolver os personagens menores e os vilões. Neste filme, MSJ mostra que pode ser um bom diretor. É só ele parar de querer pôr o mundo nas costas.

Por isso eu digo, VÃO ASSISTIR A ESTE FILME NO CINEMA SEM RECEIOS! Vocês não vão se decepcionar (muito), nem achar que foi dinheiro jogado fora. Muito pelo contrário. E quem for à seção de abertura no Kinoplex aqui em São Paulo, com certeza vai me ver por lá. Eu vou ser o cara radiando felicidade por todos os poros.

sábado, 10 de fevereiro de 2007

Babel - Uma Torre de Ótimas Vozes

"Good morning, little school girl
Can I go home with you?"
-Johnny Lang, Good Morning, Little School Girl

O filme “Babel” (2006) é um dos fortes candidatos ao Oscar de Melhor Filme este ano e não é por acaso. Todos os ingredientes que a academia busca num filme se encontram nele. Ele até mesmo lembra (vejam bem: lembra) o vencedor do ano passado, o filme “Crash – No Limite” (2004), o que, no final, pode ser um ponto positivo ou negativo. Mas o filme tem méritos próprios. A estória mantém a audiência presa com suas múltiplas linhas temporais e narrativas que acabam por se encontrar, uma a uma, de forma tênue, mas relevante. O elenco é sólido ao ponto de poder ser considerado estelar e as performances, até dos personagens mais discretos, são memoráveis. O diretor Alejandro González Iñárritu já provou o seu valor em produções anteriores, inclusive conquistando um Oscar previamente. Os locais utilizados nas filmagens são cheios de vida própria e realmente transportam a audiência. Mas, mais importante que tudo, o filme é relevante.
Assim como “Crash” tratou de um assunto extremamente delicado, porém óbvio dentro da realidade americana, “Babel” faz o mesmo e vai até um pouco além. Se o assunto da diversidade racial e cultural dentro de um único país já é assunto para o debate de alguns ramos científicos, “Babel” apresenta à audiência claramente a questão mais importante desta primeira década do novo milênio: Como conciliar culturas e vidas tão diferentes no panorama global integrado no qual vivemos hoje? Basta dizer que, se o plano for ver este filme no cinema com alguns amigos, não leve dinheiro contado para a seção. Porque vocês vão querer parar em algum lugar para conversar sobre o filme depois e um cafezinho vai ajudar.

A estória se passa em quatro locais e momentos diferentes. No Marrocos, o casal Richard e Susan Jones (Brad Pitt e Cate Blanchett) estão numa viagem turística quando uma bala atravessa o vidro do ônibus em que se encontram e acerta Susan no ombro. Presos no meio do nada, eles são forçados a se refugiar num vilarejo, onde a preconceituosa Susan passa por o que deveria ser sua visão do inferno. Longe das instalações mais apropriadas, ela é tratada por um médico sem recursos ou grandes considerações por higiene, é suturada sem anestesia e, para suportar a dor e dormir, é medicada fumando ópio.
Isto tudo ocorre sem que ninguém saiba que os responsáveis são dois jovens irmãos, Ahmed e Yussef (Said Tarchani e Boubker Ait El Caid) que ficaram encarregados por seu pai de tanger as cabras da família e usar um rifle recém adquirido para matar coiotes.
O rifle tem uma proveniência longínqua, pertencia ao executivo e caçador japonês Yasujiro (Kôji Yakusho). Yasujiro é um viúvo que vive com sua filha Chieko (Rinko Kikuchi), uma adolescente surda-muda que sofre com suas deficiências quando tenta se relacionar com o mundo e, especialmente, com o sexo oposto.
Já na casa do casal Jones, seus filhos Mike e Debbie (Elle Fanning e Nathan Gamble) ficam sob os cuidados da mexicana e imigrante ilegal Amélia (Adriana Barraza). Amélia é uma mulher extremamente carinhosa e uma ótima governanta, na qual os Jones parecem confiar plenamente. Mas com os Jones ilhados em Marrocos, sem achar outra pessoa que cuide das crianças para ela e precisando ir ao México para o casamento de seu filho, ela forçada a levar as crianças consigo. O casamento transcorre lindamente, com todo o sabor da cultura mexicana. O problema é passar pela fronteira na volta aos EUA, sendo uma trabalhadora ilegal, tendo levado menores para outro país sem a expressa autorização dois pais por escrito ou documentos que a provassem como guardiã das crianças, e pra piorar, estando num carro dirigido por seu sobrinho que está embriagado e portando uma pistola.

Mas, realmente, a estória é facilmente suplantada pelo desempenho dos atores que a representam. Brad Pitt e Cate Blanchett formam um casal na tela que é não apenas convincente, mas apaixonante. A audiência realmente quer vê-los juntos e felizes. Individualmente, o destaque é Pitt, que mais uma vez prova que seu repertório de atuação abrange todos os espectros da emoção, da ira à paixão e ao desespero.
Todos os atores mirins carregam suas cenas com seriedade e são capazes de criar momentos muito verdadeiros em suas cenas. As duas duplas formadas por Fanning e Gamble e por Tarchani e El Caid, atuam muito bem juntos, jogando sempre de um para o outro e tendo na troca suas interpretações melhoradas.
No entanto, para mim, a melhor impressão foi deixada pelas atuações do pólo japonês da estória, principalmente por Rinko Kikuchi, que recebeu a indicação para o Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante. Como a perturbada e deficiente Chieko, Kikuchi transmite claramente uma vasta miríade de emoções através de gestos, expressões e simplesmente olhares. Kôji Yakusho não fica muito atrás, deixando a audiência sempre confusa se deve prestar mais atenção no que ele diz ou no que ele transmite por suas feições e olhares. Duas atuações incrivelmente inspiradas.

Babel é um filme de transições rápidas e mudanças de cenário vertiginosas, que sempre deixam na audiência a vontade de ver mais dos personagens que acabaram de sair de cena, numa sucessão de constantes picos e vales que garantem uma experiência cinematográfica única. Se o filme é um forte candidato ao Oscar de Melhor Filme, e se Alejandro González Iñarritu tem boas chances de levar o Oscar de Melhor Diretor, as três atrizes do filme que concorrem ao Oscar de Melhor atriz Coadjuvante, Blanchett, Barraza e Kikuchi merecem cada uma o Oscar. Senão o Oscar de Melhor Atriz. Mas, se apenas uma pode levar a honra da estatueta de ouro para casa, eu espero que a Academia concorde comigo e premie o fenomenal trabalho de Kikuchi.

segunda-feira, 5 de fevereiro de 2007

Escolha para o Oscar - O Labirinto do Fauno

"Some will trie to hide himself, down inside himself..."
-Audioslave, "Be Yourself".

O texto abaixo está abrindo uma pequena série sobre aqueles que, em minha opinião, são os melhores filmes indicados pela academia para receber o Oscar este ano.

“O Labirinto do Fauno” (El Laberinto del Fauno) de Guillermo del Toro é um filme que sem dúvida merece estar entre aqueles que receberam indicações para o Oscar. Fantástico em todos os aspectos, o filme não é exatamente algo novo dentro do repertório do diretor, escritor e produtor. Mas, depois de seus últimos filmes, até parece ser e, com a ajuda de alguns velhos amigos e velhos recursos, eleva a visibilidade de del Toro como um dos mais talentosos novos diretores no Cinema mundial.

O primeiro filme que pode ser considerado grande feito por del Toro foi “Mímico” (1997), um filme de terror que, até para o diretor, foi uma decepção. O filme que ele fez em seguida, “El espinazo del Diablo” (2001), não fez muito sucesso e não são muitos que o conhecem, mas nele estavam as sementes para a criação de “O Labirinto do Fauno”. No filme, del Toro mistura elementos históricos da Guerra Civil Espanhola com o fantástico e o choque que o encontro destes dois mundos provoca na vida do jovem protagonista. Exatamente como em “O Labirinto...”. Os filmes que se seguiram tiveram mais exposição na mídia e foram dois filmes que ajudaram a plantar as sementes do movimento que levou Hollywood a voltar a fazer filmes sobre histórias em quadrinho. Enquanto “Blade II” (2002) foi um dos piores esforços de adaptação dos quadrinhos para o Cinema, também foi o mais rentável dos três filmes do personagem interpretado por Wesley Snipes (talvez o motivo da péssima adaptação fosse o fato do personagem ter um limitadíssimo material em quadrinhos e somente uma pequena legião de fãs que lutassem por uma adaptação fiel. Mesmo com três filmes passando pelo cinema, Blade só recebeu um título próprio em 2006). Já “Hellboy” (2004) foi uma adaptação muito melhor sucedida. Baseado nos quadrinhos de Mike Mignola, o filme se mantém fiel ao espírito do personagem, mesmo que a estória tenha sido alterada, muito como no filme “Homem-Aranha” de Sam Raimi. Guillermo del Toro foi capaz de usar sal paixão por monstros e pelas estórias de Mignola para criar um ambiente assustador de criaturas fantásticas, mas muito bem criadas. Uma menção especial deve ser feita à personagem Abe Sapiem, representada pelo ator Doug Jones com a voz do ator David Hyde-Pierce. Jones já havia trabalhado com del Toro em “Mímico”, onde havia emprestado sua figura esguia ao monstro daquele filme.
Jones e del Toro estão juntos novamente em “O Labirinto do Fauno”, onde mais uma vez Jones empresta a atuação física a uma personagem enquanto outro ator se encarrega da voz. Jones, que é americano, passou meses ensaiando suas falas em espanhol e inclusive nas cinco horas em que passava recebendo a fantasia e maquiagem para representar o Fauno e o Homem Pálido, dois dos personagens fantásticos do filme. No final, del Toro decidiu usar uma voz mais autoritária de um veterano ator de teatro para articular as falas da personagem. E não se pode dizer que não valeu a pena.

No filme, Ivana Baquero, uma jovem atriz espanhola de apenas 12 anos, representa Ofélia, uma menina imaginativa que adora contos de fadas, filha de um alfaiate que morre na Guerra Civil e de Carmen (Adriadna Gill), uma mulher simples que se casa com um dos clientes de seu falecido marido, o Capitão Vidal (Sergi López), das forças de Francisco Franco. Ofélia e Carmen, que está nos últimos estágios de uma complicada gravidez, começam o filme viajando para se encontrar com o Capitão num dos muitos campos de batalha onde milícias ainda resistem à ascensão do regime fascista.
Lá, Ofélia se depara com uma situação extremamente difícil. O Capitão é um homem duro e cruel, cujos únicos interesses são matar o inimigo e ver nascer seu filho varão. Com a piora da saúde de sua mãe, Ofélia passa cada vez mais tempo sozinha. Uma noite, ela é visitada por um estranho inseto que se revela uma fada e a leva até um labirinto antigo na floresta próxima ao acampamento. No centro do labirinto ela encontra o Fauno, que conta a ela que ela é uma princesa a muito perdida, filha do Rei do Submundo, o mundo das fadas. A partir daí Ofélia tem que cumprir três tarefas para provar que é realmente a princesa e ainda tem que cuidar da mãe doente e evitar a ira do Capitão Vidal enquanto agentes infiltrados da resistência dentro da própria casa do Capitão tentam derrubá-lo.

Separados, os dois mundos do filme, o real e o fantástico, contam estórias relativamente simples. No mundo real, a preocupação é com o sofrimento e a luta contra um regime opressor. Quando há elementos fantásticos, é um conto de fadas sobre uma menina que enfrenta desafios terríveis para se juntar à sua família e assumir seu lugar de direito.
Juntos, um complementa o outro de forma envolvente, o mundo real emprestando ao fantástico seu sentido de urgência e de perigo, o fantástico dando ao real a mágica necessária para dar a estória sua proporção épica.
Graças ao fato de sabermos estar vendo um conto de fadas, que automaticamente associamos com estórias para crianças, podemos ficar chocados com a violência desmedida e realística do filme. Soldados, rebeldes e camponeses morrem e todo o sangue, todas as feridas e marcas de brutalidade são mostrados. É como se o diretor dissesse: “Sabe aquela parte na estória ‘Chapeuzinho Vermelho’ em que o lobo mau come a vovozinha? O sangue da pobre velhinha era ASSIM e as entranhas dela provavelmente pareciam com ISTO!”. O principal beneficiário é o Capitão Vidal, que em cenas como na qual ele esmaga o rosto de um camponês e depois executa a ele e a seu pai e na cena em que ele costura, sem anestésicos, um corte em seu rosto, ganha proporções fantásticas como um vilão digno de um conto de fadas.
E graças ao fato do filme ser ambientado no mundo real, as personagens fantásticas ganham dimensões reais e estória se torna realmente poética. Principalmente o final do filme ganha um ar dramático clássico que lembra muito o teatro “Shakespeareano”.

A cinematografia do filme também é ótima e del Toro esbanja na repetição de truques de câmera que não são cansativos, funcionam muito bem e permitem até algumas surpresas. O mais facilmente identificável é o uso de elementos do cenário para transição de cenas (numa hora, Ofélia está começando a andar morro acima em direção à câmera, mas após passar por trás de uma árvore, ela já aparece de costas para a câmera, no topo do morro). Este truque ajuda em muito da velocidade do filme e, de alguma forma, simula com exatidão o passar do tempo em narrativas de ficção como contos de fadas. O uso de luzes é extremamente bem articulado e os cenários são belíssimos, tanto quando são espaços fechados quanto quando são espaços abertos. Todos se encaixam muito bem com a atmosfera do filme.
As atuações são inspiradas do começo ao fim, passando por todos os personagens. O elenco, que muitos executivos no estúdio achavam preocupante, é capaz de contar a estória e prender a audiência com eficiência e graça. A pequena Ivana Baquero é perfeita para o seu papel e possui uma presença de tela incomum em atores da sua idade. Sergi López faz de seu Capitão Vidal um vilão saído dos piores pesadelos tanto de crianças pequenas quanto de veteranos de guerra. Seu rosto parece ser esculpido de pedra na sua rigidez e as poucas emoções que ela parece capaz de exprimir são o ódio, o profundo descaso e uma selvageria quase animais. E, deste pequeno leque de possibilidades, López faz o melhor e traz cada qual à tona com intensidade, precisão e pontualidade. Ariadna Gill faz bem o papel de mãe e é capaz de apresentar seus diálogos com toda a emoção e com todo o desespero que a parte demanda. Mas, como o papel exigiu mais tempo dela comatosa numa cama do que em diálogos ou ação, pouco foi mostrado que pudesse realmente exigir uma demonstração grandiosa de talento. Maribel Verdú, no papel da empregada e também espiã da resistência Mercedes, é talvez o maior destaque do filme. Geralmente atuando em papéis de musa e de mulher fogosa, Verdú aparece aqui como uma mulher angustiada, mas capaz de agir com candura e piedade, virando quase que uma segunda mãe para Ofélia, mas também capaz de determinação ferrenha e nervos de aço. Seus diálogos são cheios de uma simetria belíssima e nenhuma cena na qual ela aparece é perdida. Sua presença na tela é poderosa e sua influência em todas as personagens é notável. Para aqueles que ainda não viram o filme, eu garanto: Ela é a personagem a ser observada no filme. Alex Ângulo faz o papel do médico Dr. Ferreiro de forma competente e convincente, como um homem de paz fazendo o que pode em meio à guerra. Talvez a atuação mais fraca do filme seja a do ator Roger Casamajor que faz o papel de Pedro, o líder da resistência, mas ele não aparece o suficiente para ser relevante.
Mas, mais uma vez, a atuação física de Doug Jones rouba a cena. Seja como o Fauno ou o como o monstruoso Homem Pálido, seus movimentos e maneirismos dão o aspecto surreal às personagens e, através da pesada maquiagem e máscara do Fauno, suas expressões são uma inestimável colaboração para o filme. Jones já está marcado para aparecer mais uma vez no cinema num grande filme este ano, em “Quarteto Fantástico 2: A Ascensão do Surfista Prateado”, como o Surfista Prateado, o arauto de uma criatura cósmica gigantesca conhecida como Galactus, o devorador de planetas.

“O Labirinto do Fauno” é um excelente filme, com uma história cheia de mágica e do inesperado, com um final emocionante, grandes interpretações, bela fotografia e ótima produção e direção. Sem dúvida, é o meu favorito na corrida pelo Oscar de melhor filme estrangeiro.

quarta-feira, 31 de janeiro de 2007

O Retorno - Jornalismo

The VOICE says: Are you tired of getting lied to?”
- Jonathan Hickman, The Nightly News

Para começar, eu acho que devo a todos desculpas. Um ano sem escrever é tempo demais.
Mas espero conseguir o perdão daqueles que liam o meu antigo blog (sepultado pela minha inabilidade de lembrar a senha e manter meu antigo e-mail) explicando algumas coisas que estão profundamente ligadas ao âmago daquilo sobre o que eu realmente vim escrever aqui hoje.

A verdade é que, depois de dois anos de muito estudo e poucos resultados, eu finalmente re-ingressei numa faculdade. Agora me junto aos números da Faculdade Cásper Líbero e estou, uma vez mais, trilhando o caminho do Jornalismo legítimo.
Isto posto, enquanto você, leitor, decide se sou ou não merecedor do seu perdão, eu gostaria de falar sobre a minha musa, minha carreira, minha vocação e meu chamado: O Jornalismo.

Na falta de credenciais para tentar discursar sobre o tópico, eu ofereço a minha visão em face de alguns fatos históricos, senso comum e comentários de conhecedores e leigos.

Não obstante o que os historiadores mais zelosos possam dizer, a história do Jornalismo como nós o conhecemos começa com Gutenberg em 1456. Antes, a disseminação de informação era simplesmente muito lenta e extremamente restrita. Os primeiros jornais começaram a aparecer na Europa no século XVII e o primeiro periódico surgiu na Alemanha em 1594, o Mercurius Gallobelgicus.
A arte de produzir e espalhar notícias já mudou muito desde então, tanto em técnica como em meta e em basicamente todos os outros aspectos envolvidos. Poucas foram as atividades que mudaram mais com o advento da internet do que o Jornalismo. Agora os profissionais, os estudiosos e os leitores têm novas e interessantes perguntas a responder.

Por exemplo, a concentração dos meios de comunicação nas mãos de grandes corporações é algo com que todos devem se preocupar. No mundo todo, três quartos de todo o dinheiro gasto em propaganda acaba nos bolsos de apenas 20 companhias de mídia. O impacto na confiança depositada nos meios de comunicação é palpável. No nosso país, a situação pode ser até mais grave do que no resto do mundo, considerando que a Rede Globo tem duas mãos firmemente colocadas no pescoço do público brasileiro num quase-monopólio dos recursos da informação. São pessoas que têm acesso às figuras mais importantes do país não pelo interesse em relatar a verdade, mas por interesses comuns.

A minha geração já nasceu num tempo em que a frase “direção editorial” quer realmente dizer “agenda política” e onde notícia e propaganda estão tão entrelaçadas que às vezes fica difícil distinguir os limites entre uma coisa e outra. Resta a nós saber quais serão as novas frases de efeito que NÓS inventaremos para mascarar a venda dos nossos ideais e moralidade.

E que aqueles que estão agora, como eu, dando seus primeiros passos na profissão não se iludam com o idealismo, mesmo sendo ele necessário para sequer considerar o jornalismo como carreira. O sistema está aí estabelecido contra nós. O público vive incutido com a noção do repórter como abutre, como parasita e como fomentador da discórdia e manipulador dos fatos. O mercado de trabalho é extremamente pequeno e fica menor todo ano, forçando o profissional a praticamente pendurar o orgulho e mendigar um emprego. E quando isso acontece, o empregador sabe que tem você pelas bolas. Você vai fazer qualquer coisa para manter aquele emprego. Mas será que vai fazer realmente qualquer coisa?

As duas coisas que um jornalista nunca deve fazer na minha opinião são: ele próprio virar notícia; ou comprometer sua carreira fazendo uma escolha moral duvidosa. E esta é a parte difícil. Das falhas morais, a mais grave é a fabricação da notícia. A mentira, para ser mais claro. Mas o problema maior é que a verdade pode ser usada para adiantar qualquer intenção escusa que se aposse dela. É neste campo minado que trafega o jornalista.
Num lado menos filosófico, o jornalista trabalha horas absurdas, ganha mal e se expõe a todo tipo de perigo. O bom jornalista, ao mesmo tempo em que angaria respeito e confiança de suas fontes e colegas e, com sorte, até do público, também angaria a inimizade de muitos, bandidos e mocinhos, despojados e poderosos.

Por enquanto, isto é tudo que eu quero dizer sobre o assunto. Mas ele será revisitado e eu prevejo que não serão poucas as vezes que eu falarei sobre a minha profissão. Sempre em destaque, mas nunca totalmente compreendida.