terça-feira, 15 de maio de 2007

A Verdade Sobre a Crise

"Apesar de você, amanhã há de ser outro dia..."
Chico Buarque - Apesar de você

O São Paulo começou bem o Brasileirão 2007, derrotando o Goiás por dois a zero. Mas isso foi dentro de campo. Fora de campo, uma das piores crises que o clube já enfrentou nos últimos três anos se avizinha, não em menor parte graças aos meus colegas da imprensa esportiva.

Ano passado, o São Paulo teve uma campanha pouco convincente no Campeonato Paulista, mas foi vice-campeão. O mesmo pode ser dito da campanha feita na Libertadores de 2006, e o resultado foi o mesmo. Quando o time enfrentou a esquadra do Boca Juniors pela Recopa e foi retumbantemente derrotado, instalou-se a crise no time mais rico e melhor organizado do país, mesmo tendo um elenco invejável, uma boa comissão técnica e uma diretoria competente. Foi preciso uma junção de forças de todas as partes, instigada pela direção do clube, para que o ano não fosse perdido e para que o time, merecidamente afinal, chegasse ao título Brasileiro. Mas não foi uma conquista sem certo grau de dramaticidade, com outros times se mantendo próximos do tricolor até o final da competição.

Passada a euforia da conquista, que pouco durou, pois as saídas de jogadores importantes ao esquema tático como Danilo, Fabão e Mineiro jogou um balde de água fria até no mais esperançoso torcedor, começou a preocupação de remontar o time. Souza, que havia sido um eterno curinga no time, ocupando diversas posições e se destacando na maioria delas foi recompensado com a camisa 10 e a posição de titular na meia-direita, sua posição de ofício. Ilsinho, revelação do Campeonato Brasileiro para o tricolor, se consolidou como dono da lateral direita. O esquema tático preferido de Muricy Ramalho, o 4-4-2 parecia que sairia finalmente do papel para ser sucesso nos gramados. Os reforços foram chegando aos poucos e aos poucos a torcida começou a se animar novamente. Afinal, Jorge Wagner, Jadilson e Fredson são nomes que inspiravam confiança à torcida. Jogadores que ainda eram novatos no São Paulo no final do ano ou que estavam machucados prometiam ter ótimos desempenhos em 2007, com Junior recuperado da sua lesão no tornozelo, Maurinho retornando e podendo ser, como prometido, o herdeiro legitimo da posição de Cicinho, André Dias, Miranda e Alex Silva seriam barreiras intransponíveis, Rogério Ceni chegaria com facilidade ao seu centésimo gol na carreira. E lá, na distância, o torcedor avistava a promessa da terra prometida, a ser entregue nas chuteiras do atacante Dogoberto. Seria o fim das improvisações estranhas, dos jogadores curingas e, mais uma vez, como em 2005, o São Paulo seria campeão e indiscutivelmente o melhor time do Brasil.

Cinco meses se passaram e a realidade estapeava a cara de são-paulinos doentes e ocasionais igualmente. O São Paulo havia caído de forma humilhante, em casa, perante o fraco time do São Caetano nas semifinais do Campeonato Paulista. E ali a grande maioria dos torcedores, sentada na frente de seus televisores, via o São Paulo, menos de duas semanas depois, sendo eliminado nas oitavas de final da Copa Libertadores 2007 pelo time do Grêmio. Em campo, Miranda, Ceni e Alex Silva se defendiam nervosamente dos contra-ataques do time do Rio Grande do Sul, já que mais ninguém olhava por eles. Abandonado no meio de campo, Josué tentava fazer o milagre nosso de cada dia, marcando com a mesma eficiência que o Grêmio, sendo que o time adversário precisava de três jogadores para fazer aquilo que o incansável leão são-paulino fazia sozinho. Lançados à frente, esquecendo de suas obrigações para com a defesa, estavam Jadilson, Ilsinho e Richarlysson. Os laterais se expunham ao mundo em todos os seus atributos e falhas. Ambos criativos e rápidos, mas pouco objetivos e simplesmente frágeis na defesa. Richarlysson era o ser inexplicável que sempre fora. Esforçado, sim, mas pouco habilidoso, mal posicionado, confuso e constantemente, incrivelmente, sempre escalado, mesmo que em diversas posições diferentes. Outro esforçado em campo era Hugo, mas este era punido pela total apatia e incapacidade de jogo de Souza, Leandro e Aloísio. Também inexplicável era a presença de Jorge Wagner, André Dias e Dagoberto no banco de reservas. Incluo aqui André Dias porque o São Paulo começou o jogo com a vantagem de ter ganhado a partida anterior em casa, podendo perder por uma diferença de um gol, contanto que também marcasse. E, se não marcasse, perdendo de um gol, levaria a decisão para os pênaltis.

O que aconteceu foi que o técnico Muricy mandou o time para cima do Grêmio, dentro do estádio Olímpico, mudou o time somente no intervalo preservando em campo jogadores que estavam obviamente menos qualificados para a decisão do que aqueles que saíram e se recusou a mudar de tática, mesmo depois que a derrota se tornou óbvia até mesmo para aqueles menos iniciados que assistiam ao jogo.

Já na sexta-feira, os mais atentos ignoravam as notícias sobre as peripécias do Papa na terra tupiniquim e prestavam atenção aos avisos de que uma grande mudança viria a ocorrer no elenco do tricolor paulista. Talvez o problema tenha vindo exatamente com o “olho” da notícia que bradava: “se o São Paulo começar amanhã com Jorge Wagner, Dagoberto, Borges, André Dias e Hernane, o Muricy não manda mais nada no São Paulo”. E é assim que se instala uma crise num time com a estrutura do São Paulo.

Quem me conhece sabe que não sou fã do trabalho de Muricy Ramalho no São Paulo. Eu vejo o técnico como tendo um histórico de preferir a improvisação à utilização de atletas da posição, preferindo o risco do curinga ao risco de uma formação mais arrojada, de intervenções tácticas tímidas e atuações dramáticas à beira do gramado, de alterações tardias e confusas, de proteger jogadores de sua confiança enquanto expõe outros jogadores com críticas e diversas outras coisas. Erros que nem sempre custaram ao São Paulo a derrota nos jogos, mas que têm custado ao São Paulo campeonatos e o desenvolvimento de craques. Por meses eu me perguntei se eu e alguns outros éramos os únicos a ver os problemas do time. E resposta chegou a mim no sábado pela manhã.

O presidente do São Paulo, Juvenal Juvêncio, teve uma conversa com o técnico e chamou a atenção dele, obviamente, para alguns dos problemas do time e da sua direção. Não vou chegar aqui e dizer que Muricy foi totalmente desmoralizado e que o presidente tomou as rédeas do time, passando por cima do técnico e escalando o time. O problema foi que a imprensa esportiva de São Paulo decidiu correr com este ângulo. E foi isso que acarretou a crise, somado aos boatos da saída do lateral Júnior, ídolo da torcida, preterido pelo técnico por Jadilson, que tem tido atuações muito abaixo da média.

O que resta agora ao time do São Paulo e à sua torcida é buscar na imprensa as vozes mais ponderadas para que esta crise fabricada não se torne real. Perder jogos faz parte do futebol. Fracassar em campeonatos é mais do que normal, é a norma. A diretoria interferir em momentos de crise anunciada não é apenas normal, é aconselhável e mostra um bom tino administrativo. O que não é normal é que esta realidade fabricada se torne a situação aceita.

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