segunda-feira, 19 de fevereiro de 2007

Os Carl-Oscars: Ghost Rider

"All horses snorting fire, as they ride on hear their cry"
- Johnny Cash, "(Ghost) Riders in the Sky"

Finalmente, saiu o filme "Ghost Rider" ("O Motoqueiro Fantasma") nos EUA. Aproveitando o feriado do President's Day (que está sendo celebrado hoje) e o "fim de semana de quatro dias", Ghost Rider abriu como um dos filmes mais lucrativos a serem lançados no mês de Fevereiro. Rendeu quase US$16 milhões no primeiro dia, US$44 milhões até ontem e a SONY espera ultrapassar os $50 milhões até o fim do dia de hoje. O filme já rendeu mais de 60 milhões no mundo todo e o filme ainda nem estreou em países como Inglaterra, Espanha e aqui mesmo no Brasil. Esse rendimento deve assegurar que "Ghost Rider" se torne uma franchize como "Spider-Man", "X-Men" e "Fantastic Four", rendendo outros filmes com o personagem (YEAH!).
O filme não é nenhuma obra prima e os críticos estão fazendo de tudo para destruí-lo na mídia. Mas não se enganem: O filme é bem superior a outros esforços de adaptar um quadrinho para a telona como "X-Men: The Last Stand", "The Punisher", "Blade II", "Blade: Trinity" e até mesmo os outros dois filmes de Mark Steven Johnson "Elektra" e "Demolidor". E se você for fã do personagem (como eu) pode inclusive achá-lo melhor que "Fantastic Four", "Hellboy", "Blade" e "Superman Returns".

O filme sofre do mesmo problema que a maioria das adaptações de quadrinhos para o cinema, isto é, a história não é exatamente fiel aos quadrinhos. Nem sequer vou tocar no assunto sobre o demônio Zarathos e todos os problemas de continuidade causados pela segunda série do Motoqueiro Fantasma dos anos 90, estrelada por Danny Ketch.
Enquanto nos quadrinhos Blaze vende sua alma para salvar seu pai adotivo, Crash Simpson, pai de Roxanne, seu grande amor, no filme Blaze faz um acordo com o demônio Mefistófeles para salvar seu pai Barton Blaze. O pai de Roxanne nem ao menos aparece no filme e só é mencionado para mostrar que não gosta do fato de sua filha estar apaixonada por um "carnie" (trabalhador de circo). Obviamente que estes fatos refletem na motivação dos personagens e como eles se desenvolvem, mas depois de alguns minutos de filme, até eu já havia me esquecido destas mudanças.

O outro problema com a origem de Blaze no filme são alguns dos atores escolhidos para esta parte do filme. Matt Long, que faz o papel de jovem Johnny Blaze é de longe o pior ator do filme.
O ator que faz o papel de Barton Blaze também não é dos mais convincentes e as duas apresentações contam pelos piores 20 minutos do filme.
O que salva o começo são as atuações de Peter Fonda como Mefistófeles e Raquel Alessi como a jovem Roxanne Simpson. Raquel é incrivelmente parecida com Eva Mendes, que representa Roxanne crescida, e ao contrário de outros atores no filme tem uma ótima atuação e consegue realmente manter sua personagem multidimensional. A forma como Johnny Blaze faz seu acordo com o capeta também é muito diferente da história dos quadrinhos e será provavelmente o ponto que decepcionará o maior número de fãs. Mas funciona dentro do filme, agradará ao público que não conhece o personagem tão bem e é mais dentro da atual linha editorial do personagem na Marvel, transformando Johnny Blaze num personagem eternamente enganado e manipulado.

Mas a história começa a brilhar quando o tempo avança e vemos Johnny crescido, interpretado pelo GENIAL Nicholas Cage. Cage (ator famoso por outros trabalhos como "Arizona, Nunca Mais", "The Rock", "A Outra Face" e "O Senhor da Guerra") passou anos declarando publicamente seu amor pelo personagem e não há um segundo na tela que desminta suas juras apaixonadas. Este Johnny Blaze é bem diferente daquele dos quadrinhos, mas é uma interpretação coerente e extremamente simpática e, mais importante, AINDA É Johnny Blaze. Na verdade, o personagem é a peça mais importante no plano dos cineastas de fazer uma versão mais bem humorada e acessível ao público mais jovem. Em vez de vermos um Johnny Blaze amargurado, bebendo uísque e fumando, vemos Blaze vendo programas bobos na TV, comendo balas de goma e ouvindo músicas melosas dos Carpenters. Parece ridículo, mas a lógica por trás de tudo isso é sólida e funciona na tela. O mais importante é que Johnny Blaze é o típico "stunt rider". Ele encara a morte de frente e sem medo e carrega esta atitude para os seus confrontos com demônios, polícia e com a vida em geral.
Donald Logue (mais conhecido por seus trabalhos para a TV nas séries "ER" e "Grounded for Life") também é um dos melhores na tela, no papel do melhor amigo de Johnny, Mack, o cara que o acompanha e ajuda na preparação dos shows. Logue tem algumas das melhores falas do filme e sua atuação cria um personagem com o qual a audiência pode se identificar e acaba gostando bastante.
Eva Mendes faz talvez o melhor trabalho de sua carreira neste filme e, diferentemente de muitas outras atrizes envolvidas em filmes sobre quadrinhos, se distancia da imagem da donzela em perigo e se aproxima mais de uma pessoa real. É muito difícil olhar para qualquer outra coisa quando ela está na tela.
Sam Elliot (de "Tombstone", "Obrigado por Fumar" e "O Grande Lebowsky") faz o papel de Caretaker. E, para falar bem a verdade, nenhum outro ator poderia fazer este papel. Sua voz de Barítono, seu sotaque e seus maneirismos se encaixam perfeitamente ao personagem. Sua atuação e o dueto que ele faz na tela com Nick Cage são impagáveis.

Mas tudo isso some quando o Motoqueiro Fantasma aparece. Na telona, o Espírito da Vingança é uma combinação fantástica de três elementos:
1- A caveira que vemos na tela foi criada a partir de chapas de raios-X e tomografias em 360º da caveira do próprio Nick Cage, dando a ela uma realidade indiscutível (mesmo sendo menos expressiva do que nos quadrinhos).
2- Os efeitos especiais de Computação Gráfica usados para criar o fogo que o envolve são realmente top-de-linha. O fogo se move como fogo deve se mover e o efeito criado nunca atrapalha a vista. Ninguém vai olhar para a tela pensando "Lá vem o Chaves, Chaves, Chaves...".
3- Montado na sua moto em chamas, subindo pelo lado de prédios, andando sobre a água, derretendo asfalto, o Motoqueiro é uma das visões mais incríveis já conjuradas numa tela de cinema. Ele é simplesmente... COOL.
Nenhum de seus poderes é omitido. Ele cria paredes de chama, usa sua corrente, olhar de penitência e escopeta de fogo do inferno, além de descer a mão com categoria.

Mas a verdadeira fraqueza do filme é os seus vilões. Depois que você se acostuma ao fato de ver uma lenda do cinema como Peter Fonda, você percebe que as falas de Mefistófeles são extremamente mal-escritas, estereotipadas e rasas. Ele faz o melhor possível com o material, mas ainda assim está longe do diálogo com o qual o fã de quadrinhos já se acostumou a ler.
Wes Bentley, atuando no papel de Coração Negro, é terrível. Se não fossem os efeitos especiais, a única coisa assustadora sobre ele seria o fato do quanto o garoto NÃO sabe atuar. Ou se sabe, não mostrou ao que veio neste filme. Ele ainda tem seus bons momentos no final do filme, pra não dizer que nada se salva. Só um aviso: Se você esperava ver neste filme versões clássicas do demônio Mefisto e do próprio Coração Negro, você vai se decepcionar. Coração Negro ainda chega perto daquele que já vimos desenhado por grandes como John Romita Jr., mas Mefisto simplesmente não aparece neste filme.
Sobraram os demônios elementares, recrutados por Blackheart para ajudá-lo. Se não bastasse o fato de já termos visto demônios elementares na animação longa-metragem do Homem de Ferro, que não saiu faz mais de quatro meses, em Iron Man eles são anos-luz melhores. Esses caras não deveriam nem sequer ser atores, quiçá aparecer no filme do Motoqueiro Fantasma. Eles são de fazer a audiência cobrir o rosto, mas não de medo. Nem os efeitos especiais dão conta de salvarem estas péssimas participações.

Mas o fato é que todos estes problemas não chegam a estragar o filme (da forma como o péssimo Dr. Destino estragou para mim “Quarteto Fantástico”).
Talvez porque este filme se escorou bem nas três coisas que realmente lhe garantiam uma vantagem: A atuação dos seus atores principais, o puro poder de impacto visual do Motoqueiro Fantasma e uma história que tem seus altos e baixos, mas que é interessante, profunda em alguns pontos e que tenta centralizar e não escapar de seu foco narrativo.
O filme também se beneficia de uma trilha sonora muito boa, com material instrumental original composto por Christopher Young, além de incluir alguns clássicos como as músicas "Crazy Train" de Ozzie Osbourne, "Tush" da banda ZZ Top, "Who Do You Love" de George Thoroughgood and the Destroyers e uma versão Metal de "(Ghost) Riders in the Sky", famosa pela interpretação de Johnny Cash.

Agora, sendo um pouco menos objetivo e um pouco mais "fanboy"...
O FILME É MUITO BOM!!!!
Eu gargalhei, não por humor, mas pela pura sensação de êxtase a primeira vez que o Motoqueiro Fantasma aparece na tela. A primeira vez que Blaze passa pela transformação é igualzinha ao que eu imaginava quando via Danny Ketch se transformando na revista quando eu era moleque. É uma mistura incrível de dor e poder, sofrimento e alegria. Alegria do Motoqueiro Fantasma em estar-se vendo livre da incômoda casca de carne que é Johnny Blaze.
A perseguição policial pelas ruas da cidade é um dos pontos altos do filme, onde o Motoqueiro mostra todo o seu potencial, e repetem algumas das suas maiores façanhas dos quadrinhos. E a cena do Motoqueiro Fantasma e sua contraparte do Velho Oeste cavalgando pelo deserto, de noite, ao som de "Ghost Riders in the Sky" é tão poderosa e emblemática que vai trazer lágrimas aos olhos de muita gente.

Este filme poderia ter sido perfeito - SE Mark Steven Johnson tivesse tido o tempo e, sejamos francos, a humildade de procurar a ajuda de um roteirista especializado para escrever os seus diálogos e desenvolver os personagens menores e os vilões. Neste filme, MSJ mostra que pode ser um bom diretor. É só ele parar de querer pôr o mundo nas costas.

Por isso eu digo, VÃO ASSISTIR A ESTE FILME NO CINEMA SEM RECEIOS! Vocês não vão se decepcionar (muito), nem achar que foi dinheiro jogado fora. Muito pelo contrário. E quem for à seção de abertura no Kinoplex aqui em São Paulo, com certeza vai me ver por lá. Eu vou ser o cara radiando felicidade por todos os poros.

Um comentário:

GOD disse...

realmente o filme fico um pouco distante do que agente conhece nos quadrinhos mas acho q ainda tá pra nascer alguem que consiga tal façanha, mas realmente é de longe o melhor filme de adaptação de quadrinhos que eu vi!!! É isso ae, bom fui-me e só queria dizer que você faz um ótimo trabalho Carlos, abraços